terça-feira, 18 de dezembro de 2007

uma questão colorida!!!



Querido Diário,


Talvez você não o saiba, mas o humano é, por excelência, um ser que se sente mais seguro em um mundo que ele possa analisar, dividir por espécies, e compreender. Desde sempre, os povos aprenderam e desenvolveram técnicas para melhor catalogar as coisas da natureza, e os ambientes em que nós vivemos. Se pararmos para pensar, Diário, absolutamente tudo que nos cerca já foi, de alguma maneira, catalogado. Para as coisas ainda não esclarecidas, o Homem cria teorias, nomes, idéias, que ficam á espera de serem ou não (um dia...) confirmadas. Darwin, então, levou a idéia de registrar e verificar o mundo ao extremo – e depois dele nada mais foi como antes... à partir dele, desde os muitos reinos terrestres, até todas as variações do humano vêm sendo divididas, analisadas e hierarquizadas.

A biologia deveria ter sido a ciência que acabaria com discriminações... descobríriamos, através dela, que cada ser tem seu valor intrínseco, suas características próprias e sua função na natureza - sem que isso implicasse uma escala de valores hierarquizantes. Deveríamos ter aprendido, Diário, que ser diferente não é problema. Tampouco o é reconhecermos que o nosso vizinho tem a pele mais clara ou mais escura que a nossa. O problema começa quando passamos a tomar essas diferenças como maneiras de escalonar, de identificar hierarquias que não existem de fato. Eu explico, Diário, não fique nervoso.
Vários são os parâmetros que a biologia já utilizou ao longo dos séculos para estudar os serem humanos. Muitas teorias surgiram – especialmente na idade média – que utilizaram fatores tais como o formato do cérebro, da caixa craniana, do nariz, e outros, para classificar os humanos. Todas elas foram desmascaradas pelos atuais estudos genéticos, que provaram à existência de um paradoxo: que todos os homens são muito mais parecidos uns com os outros do que a maioria gostaria; e, ao mesmo tempo, somos únicos em nossas estruturas primordiais.

No entanto, veja só, as descobertas da biologia, apesar de terem implodido muitos dos conceitos de “raça” de outros tempos, não ajudaram a tornar as sociedades menos preconceituosas.

Isso se deve, querido Diário, aos vários fatores subjetivos de que nos utilizamos para julgar as pessoas; e existe uma gama enorme de parâmetros a que os homens lançam mão para provar que são superiores uns aos outros. Alguns desses fatores - os mais importantes e mais diíceis de serem mensurados, se formam ao longo da vida e podem ser modificadas se a pessoa assim o determinar, e tiver oportunidade e vontade de fazê-lo.... Aspectos tais como honestidade, coragem, lealdade, força de vontade, respeito aos outros, respeito a si mesmo, força de trabalho, energia,... e tantos outros podem ser trabalhados, melhorados, e apreendidos.

No entanto, Diário, existem outras características usadas para julgar e catalogar as pessoas que baseiam-se em elementos que independem do sujeito, e pior, não podem ser modificadas mesmo que a pessoa assim o deseje. Estão fundamentadas na (falsa) idéia de superioridade de um grupo sobre o outro; e na tendência que o homem tem de valorizar o que é seu em detrimento do que pertence ao outro – ou ao que é diferente dele.

Assim, Diário, quando vejo alguém ser julgado pela cor de sua pele fico indignada. Não existe fator mais independente da vontade e do caráter de alguém do que a cor de sua pele, ou a cor dos seus olhos. É como querer julgar alguém por ter o dedo mindinho menor do que o seu, ou por ter cabelos encaracolados, ou por ter sobrancelhas grossas.

Julgar que existe algum tipo de predisposição genética que faz com que um grupo da cor X seja melhor, tenha melhor caráter, ou mais inteligência ou qualquer traço de superioridade sobre os elementos da cor Y é a coisa mais indigna e arbitrária que alguém pode fazer. O mesmo vale para as várias gradações que surgem nas misturas entre X e Y...

O que eu acredito, Diário, e existem muitas pessoas que pensam como eu, é que existem fatores sociais que, no Brasil por exemplo, traçam uma mórbida e triste relação entre pobreza e cor; criminalidade e cor. Não porque os indivíduos da cor X sejam melhores ou mais corretos, mas porque os indivíduos da cor Y são submetidos a condições tais que somente alguns conseguem sair do meio em que vivem, e alcançar uma vida mais digna.

Fico, às vezes, imaginando quantos séculos ainda se passarão até que as pessoas entendam que a concentração de melanina não afeta o cérebro. Também não afeta o caráter. Nem torna ninguém incompetente, e tampouco é responsável pela inteligência (ou pela falta de....).
A melanina também não torna ninguém mais violento. No entanto, Diário, quando a inteligência, a curiosidade pelo mundo, e a capacidade de realizar só é levada em conta se você pertence a cor X e não a Y, isso sim, caro amigo, pode gerar violência – porque pode acontecer de que, ao sentir-se acuado e injustiçado, o sujeito do grupo que sofre o preconceito apele para a única força que lhe é conferida: a força física.
Boa noite!!!

domingo, 16 de dezembro de 2007

Entre o Público e o Privado




Querido Diário,

Certa vez um alto executivo com quem eu trabalhei (com quem aprendi muito e por quem, até hoje, tenho a mais profunda admiração e respeito) me confidenciou que seu auto controle era treinado, como se treina futebol, xadrez, ou outra coisa qualquer. Explicou-me que treinava como manter uma expressão impassível não importando o que estivesse acontecendo à sua volta, e que jamais, ou muito raramente, demonstrava seus sentimentos.

Eu, que já trabalhava com ele há algum tempo, percebia seu desconforto com algumas situações, porque aprendi (sobrevivência, né?) a ler os pequenos sinais que ele emitia quando estava nervoso – como, por exemplo, rodar o dedão das mãos um sobre o outro... porque era só naquele pequeno e quase imperceptível gesto que era possível descobrir que algo não estava ao seu contento (e as mãos poderiam estar sempre meio escondidas por debaixo da mesa, não é? Muito menos visível do que um franzir de sobrancelhas).

Quando eu o questionei sobre o porquê disso, ele me explicou que as pessoas sentem-se vulneráveis quando não sabem o que você está sentindo – em especial se você é o chefe, ou ocupa algum cargo, posição, afeto importante na vida dessa(s) pessoa(s) em questão.
Interessante, não é? Esconder os sentimentos torna-se, então, uma estratégia ... para vencer, tornar-se invulnerável, ou manter o poder ...

Pois é... tudo isso, Diário, para falar sobre o desnudar da alma. Quando e se devemos mostrar aos outros o que sentimos, e como sentimos..

Eu explico. Uma pessoa da minha família (de quem eu gosto muito) anda possessa porque diz que estou a desnudar a alma aqui, que isso pode ser perigoso, que as pessoas saberão o que penso, como penso, o que sinto e como sinto...

Terrível, não é?

Terrível essa coisa de trazer ao público o que deveria ser privado.... na verdade, atualmente as margens que separam o público do privado se tornaram tão tênues, tão maleáveis e indistintas que, muita vezes, já não sabemos mais a que esfera pertence esse ou aquele gesto. A internet, o orkut, e os Reality Shows vieram provar que essa discussão tende a ficar cada vez mais complexa e filosófica. Até onde devemos e podemos ir ao expor nossas vidas para milhões de internautas ??

Esse questionamento me levou a pensar outros pontos, também. Por que o privado atrai tanto o olhar das pessoas? Quais os motivos que levam alguns assuntos (todos particulares) a tornarem-se quase fetiches? Por que a maneira como fulano ou beltrano expõe sentimentos é tão mais interessante do que analisar sua própria maneira de ver e sentir o mundo?

Não tenho a resposta, diário... talvez isso se deva ao prazer puro e simples de bisbilhotar a vida dos outros (as fofoqueiras de plantão, que antes ficavam sentadas nas calçadas vendo quem passa, quem entra onde, quem fala com quem, agora se sofisticaram???); talvez seja para encontrar ali coisas mais interessantes, mais vibrantes do que aquelas que compõem sua própria vida??? Ou ainda, vá saber, para viver as experiências de outrem sem colocar em risco sua própria vida insípida, porém segura.

O que eu sei, Diário, é que vir aqui e escrever têm me feito um bem enorme. Por vários motivos que não cabem hoje aqui ... mas o mais importante é que eu adoro escrever... e não consigo, ainda, escrever com propriedade sobre coisas que não experimentei, ou contar “causos” que não vivi. Minha vida é o pano de fundo para as coisas que escrevo – sempre foi. A diferença é que agora eu não te escondo mais na gaveta, e partilho com outras pessoas as emoções, as dúvidas e as frustrações ...

Se, um dia, alguém desejar usar o que escrevo contra mim.... bem.... paciência!!! Não posso evitar que as pessoas sejam más ou mesquinhas, mas, talvez, ao levá-las à reflexão (pretensão??) eu possa melhorar o mundo um tiquinho só... e fazer com que o pensar sobre a vida, o voltar-se para dentro de si mesmo torne-se menos contingencial...

Eu sei, eu sei... concordo... o inferno está cheio de pessoas que estavam carregadas de “boas intenções” ... mas, quem falou que eu quero ir para o céu??

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

SOLIDÃO









Querido Diário,

Hoje o assunto é mais sério...precisamos conversar... e o tema será a solidão!!! ... esse “monstro” que assola nove entre dez humanos (e até os animais dito irracionais), e que pode vir embalado em vários formatos diferentes....

Eu mesma já experimentei vários tipos de solidão: a solidão a dois (terrível, Diário, você nem faz idéia); a solidão na multidão (sabe a angústia Machadiana?? É a isso que me refiro); a solidão intrínseca (essa não há o que cure) .... mas a solidão a que me refiro agora é a solidão de estar só – não só sem ninguém... afinal, todos temos – ou teremos - nossos filhos maravilhosos, netos tão amados, irmãos, mãe, pai, tias e tios, sobrinhos, sobrinhas, amigos e amigas... (felizmente, eu vivo cercada de gente!! ) Falo daquela do coração, da solidão do não-amor, do desamor, das dores de (não) se permitir (ou não poder) sentir ... sabe como é? È aquela causada pela não experiência/vivência de um amor pleno (se é que isso existe!). Não é das melhores coisas de se sentir, não... mas, afinal, não chega a ser mortal, embora tenha lá suas contra indicações.

A solidão leva gente ao suicídio (não se preocupe, Diário, não é o meu caso). A solidão pode levar à depressão (também estou fora), a um estado de tristeza crônico – que exigirá altíssimas doses de amor, afeto, carinho e paciência para tirar o paciente de seu estado maso-sado- catatônico de não vida... exageros á parte.... muita solidão não é bom, não.... embora em pequenas doses..... pode ser muito salutar... o duro é saber quando já passou do limite!!

Pensando bem, o sentir-se só tem lá suas vantagens... confere alguma dignidade ao solitário; permito-lhe usufruir de maior liberdade de ir e vir; escolher a quem se ligar (ou não, afinal, o escolhido pode ter outras idéias em mente); e o mais importante, fornece momentos imperdíveis para reflexão, conhecimento ... momentos em que podemos aprender a nos amar mais, a nos conhecer melhor, e a buscar no fundo de nós as razões e as motivações para nossas ações... e nos incentivar a melhorar, a buscar novos caminhos, a procurar novos prazeres... (embora talvez fique a sensação de que nada, mas nada mesmo, vá preencher o vazio que se instala.)

A lição, Diário, é não esmorecer... não deixar desandar a alma, não permitir que a vida se torne cinza. A questão maior que se impõe é quem somos, e se o somos independente de com quem estamos ou vivemos.

É preciso ter em mente - todos os dias - que não somos metades em busca de complemento... mas que somos pessoas inteiras buscando por parceira, companheirismo, afinidades.... não importando muito o formato em que isso vem...

O grande segredo, Diário, é ser feliz apesar de..... e continuar remando... continuar firme no propósito de respirar, de ficar firme até o dia de amanhã, porque o amanhã pode trazer muitas (e boas) surpresas.

Boa noite!!!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

astrologia... e o livre arbítrio




Querido Diário,

Preciso falar com você. Urgente!!!

Perdoe-me se serei enigmática ou hermética... é que essa coisa de você não ter mais chaves, e não poder ser escondido no fundo de uma gaveta me incomoda um pouco ... sabe como é... o ser humano é muito curioso... e existem aspectos da alma da gente que não devem ser revelados porque nos desnudam de tal maneira, que tornamo-nos vulneráveis demais... então, nada de nomes e datas, ok?

Depois de alguns acontecimentos, cheguei a conclusão que tenho um grande defeito (que não é o único, claro) ... sou exagerada!! Se estou amando, o faço demais, profundamente. Se desgosto, me transformo num bloco de gélida indiferença ... e isso serve para praticamente todos os aspectos da minha vida. Tudo em doses extras, exacerbadas, maiores que o necessário. Isso se aplica, também, às superstições e suas primas.

Imagine só Diário, que dia desses fiz meu mapa astral (mais uma vez, a responsável é a Divanize). Fiquei intrigada. Afinal, como o fato dos planetas estarem alinhados assim ou assado quando eu nasci pode interferir em quem eu sou?? Sempre fui um pouco cética com relação a isso... mas, ao ler meu mapa me vi todinha retratada, como se o astrólogo me tivesse criado desde bebezinho, e conhecesse todas as minhas manias , inclusive aqueles lados da alma que eu não revelo nem para mim mesma... Incrível...

Foi interessante ter visto lá confirmado o fato de que eu só me sinto plenamente feliz quando estou me doando completamente para algo ou alguém (ahh o exagero) ... e que tenho dificuldade em encontrar meus caminhos se os estou trilhando sozinha.

Descobri esses e outros aspectos que eu já pressentia, mas não tinha certeza; e confirmei outros que eu já sabia ter desde que nasci.

Tudo isso, Diário, é para te explicar que o fato de hoje eu estar me sentindo assim, meio esquisita, mais pra lá do que pra cá, é um dos aspectos que estava escrito nas estrelas... e que essas dualidades, sensibilidades, esses sentires profundos e essas angustias que às vezes sinto também já foram previstas...

O que mais me deixa preocupada é o fato de que algumas coisas parecem pré-determinadas, como um destino quase inescapável ... será?? E o livre arbítrio? Como fica nosso livre arbítrio quando nascemos com um marte em tensão com júpiter, por exemplo? Como aprender a amar com menor intensidade se temos nossa lua em aquario??

O mais surpreendente de tudo foi descobrir que eu tenho um número surpreendentemente alto de possibilidades positivas (afinidades) com alguém que, depois de muuiittoooossss anos de convivência, e por motivos diversos, afastei da minha vida... era, segundo a astrologia, quase uma alma gêmea. Só não sei se isso prova que os astros nem sempre têm razão... ou comprova o fato de que nós, seres humanos, conseguimos estragar - com egoismo, traição, desatenção, e ausência de caridade - até as coisas que estavam (aparentemente) pré determinadas em nossas vidas para serem quase-perfeitas....

... acho que preciso parar de buscar explicações transcendentais para coisas terremas... senão, aqui a pouco vou começar a acreditar em duendes... porque em papai-noel, Diário, eu já acredito!!!

Pois é!!!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Sobre Amar




Querido Diário, Uma vez decidida a criar um blog, optei por deixar de lado outras restrições também - em especial aquelas ligadas á moral e aos bons costumes... se é para ser algo catártico, que o seja por inteiro... Então, Diário, prepare-se para fortes emoções.... mas antes,, algumas lembranças ... certa feita me disseram que não importa muito se falamos "nóis vai" ou nóis fica"... quando se trata das coisas do coração os serem humanos são todos muito parecidos... e a cultura interfere muito, mas muito pouco na maneira como vivenciamos o amor, ou, numa linguagem menos erudita, como sentimos o coração bater ... o que conta mesmo, me disseram, é a "química", o sentir, o desejo, a comunhão de corpo e de alma, a amizade que complementa ... enfim... para o amor não faz muita diferença se você tem diploma do ensino médio, ou é doutor!! ... embora eu tenha descoberto que existem outros fatores - todos questionáveis - que podem fazer diferença sim...!! Todo esse preâmbulo para dizer, diário, que as coisas do coração são assuntos à parte, ininteligíveis para qualquer razão, algo nada cartesiano ... então, não vou tentar entender aqui o que não pode ser racionalizado... ama-se e pronto!!! ... e ama-se o fato de ser capaz de amar!!! (tudo no mais perfeito "impessoal") ... mas não é sobre isso que quero confabular ... hoje passei por mais uma experiência (terrível???) ... imagine a cena.... você, Diário, cercado por todos os lados, acuado, preso na armadilha ... cerca de quarenta pares de olhos te observando, esperando que você diga algo inteligente e sagaz... Ai Meu Deus!!!! ... hoje é dia de me recordar de "ditos" antigos... quando eu estava o primeiro ano da faculdade, uma professora (Georgia) nos disse que precisava ser "muito macho" para dar aulas na USP e enfrentar até mesmo os alunos da graduação... pois é... eu entendi isso - aliás, desde meu primeiro semestre de PAE que me lembro dessa fala dela... é preciso MESMO ser "muito macho" para enfrentar aqueles quarenta olhos - selecionados pelo mais rigoroso vestibular do país!!! Pois é ... então, hoje me sinto assim meio vitoriosa... a aula foi interessante, os alunos participaram, foi assim ... um tesão de aula ... claro que com a ajuda da orientadora... mas, caramba!!!! ... eu sobrevivi, não é???!!! Hora de dormir ... estou cansadíssima ... mas antes, banho morno e um livro bem chato - qualquer coisa que traga o sono rapidinho ... Até amanhã!!!