sexta-feira, 21 de junho de 2013

Confiança Posta à Prova

Prezado Diário,
Você, que acompanha minha vida de pertinho, sabe como gosto de pensar sobre tudo – embora, muitas vezes, não chegue a conclusões brilhantes sobre nada...
Impossível, nestes tempos em que estamos vivendo, não pensarmos no significado de cidadania, honestidade, ética.
Nestes últimos dias, o país está redescobrindo sua voz; buscando um caminho para expressar seu descontentamento; tomando as ruas com solicitações justas, que representam os anseios da maioria dos brasileiros – mesmo daqueles que, como eu, assistem tudo pela televisão.
Várias vezes nesses últimos dias, senti um arrepio pelo corpo ao ouvir o hino nacional cantado nas escadarias das estações de metrô; nas praças, nas avenidas... como é lindo ver o povo unido e lutando pelo melhor uso do nosso rico e suado dinheiro pago em impostos, tarifas, encargos, etc etc...  cujo destino tem sido, nos últimos anos, viajar entre testículos de políticos ou politiqueiros corrompidos pela ganância e a desonestidade – para não mencionar outros meios de transporte ainda mais bizarros do dinheiro ganho ilicitamente.
O povo tem visto seus ídolos – como Aurélio Miguel – receber propina de carro forte, tamanho o volume a ser recebido...  e outros, todos levados pelo dinheiro fácil; pelos propinodutos que encardem nosso solo e que - até poucos dias atrás - nos levava a pensar que nada poderia mudar o status quo; impotentes que nos sentíamos para lutar contra o dreno sem fim da corrupção.
Agora, vendo milhares de centenas de jovens, adultos, e idosos empunhando cartazes fabricados em suas casas, apartidários, vestindo o branco da paz, enfrentando represálias e bombas de gás para exigirem um país melhor – cresce em mim a esperança de que pode ainda haver uma luz para iluminar o caminho novo a ser construído e trilhado.
Vendo essas multidões rebeladas, me vem à memória um texto declamado por Ana Carolina – que não sei dizer se é de autoria dela ou não – mas isso pouco importa...  importa o conteúdo, a mensagem que deveria ser lida em cada sala de aula, em cada manifesto, em cada reunião de família...
Este texto se tornou mais importante ainda depois de ontem, quando minha filha de dezessete anos, participante ativa de todas os manifestos, me perguntou: Mãe, você acha que estamos fazendo história? Estamos mudando o curso das coisas?
Eu quero crer que sim!!!  Quero acreditar que vocês – nós – demos o primeiro passo para grandes mudanças. Desta vez, quero acreditar caro Diário, que minha esperança não será novamente posta a prova. Quero crer que, desta vez, deixará de ser somente esperança e se tornará coisa concreta, alicerçada que está pela voz de milhões de brasileiros.

Só de Sacanagem

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
" - Não roubarás!"
" - Devolva o lápis do coleguinha!"
" - Esse apontador não é seu, minha filha!"
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
" - Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba."
E eu vou dizer:
"- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão:
" - É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal".
E eu direi:
" - Não admito! Minha esperança é imortal!"
E eu repito, ouviram?
IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Encontrando o caminho de volta!!


Prezado diário,
Estou chegando ao término de mais uma jornada. Hoje conclui minha tese de doutorado. Foram quatro anos de muita reclusão, pouca diversão, e algumas perdas. Foram também anos de crescimento, de aprimoramento, da descoberta de que sou capaz de vencer os obstáculos mais variados e concluir um projeto. 
Sempre ouvi dizer que a cada escolha deixamos algo de lado. Não é possível trilharmos duas estradas ao mesmo tempo; nos dedicarmos a dois objetivos que demandem de nós o mesmo tempo e dedicação. Toda opção traz implícita uma perda. Claro que sempre haverá vozes discordantes, pessoas que conseguem equilibrar pratos, tocar flauta, descascar uma fruta, e ainda assobiar...  mas eu não sou assim.
Olho para o caminho que deixei de trilhar e sinto um aperto no coração, pois foi justamente ele o mais prejudicado pelas escolhas que fiz para poder chegar ao objetivo que, apesar de ter chegado ao fim, aponta para um recomeço...  como pode perceber, caríssimo Diário, não foi só você o abandonado... também o foram minha família, minhas amigas (os), e o coração... não totalmente, claro...  mas abandonados mesmo assim.
Como sempre, procuro o lado bom das coisas e ser otimista. Para algumas trilhas deixadas, muito possivelmente jamais encontrarei um caminho de volta. Ficarão lá, sendo tomadas pelo mato da vida, consumidas pelo tempo, e nem mesmo o brilho da lua cheia fornecerá luz para iluminar o trajeto que me possibilitaria retornar.  Para outras, há volta...  porque agora terei tempo para cuidar mais e melhor das coisas e pessoas que cuidei menos do que deveria – sempre dependente de elas ainda me quererem como parceira de jornada, claro.
Hoje dormirei em paz. Missão cumprida. Agora é pensar novos projetos de vida.
Esta noite, conversarei longamente com meu parceiro de todas as noites, um cachorro de pelúcia que dorme ao meu lado; olharei para o ninho que um dia pensei ter encontrado, e tentarei  – a despeito das perdas - sonhar sonhos bons.
Sou Fenix, lembra-se Diário? Hoje me sinto consumida pelas cinzas...   mas amanhã – que não precisa ser necessariamente o dia depois de hoje – renascerei inteira e resplandecente – porque este tem sido meu destino: recomeçar, retomar, reiniciar, me reencontrar.

Obrigada, Diário, por ter me esperado por todos esses anos nesse silêncio cúmplice e sem cobranças. Obrigada por seu apoio incondicional. Obrigada por estar ai ainda, esperando por mim. Eu voltei!!!


sábado, 9 de agosto de 2008

O dia depois de hoje....


Olá Caríssimo Diário...

Seis meses, não é???

Não é que eu não tenha pensado nada – ou vivido nada – nesses últimos seis meses... mas tudo – absolutamente tudo estava voltado para “terminar” (ou quase) o mestrado.

Últimas leituras (sempre tem), últimos debates, pensamentos também de última hora.... tudo acontecendo junto, de chofre, nos últimos momentos - que duraram meses ....

De repente (não mais que de repente) tudo cessa.... coisas impressas, pensamentos concluídos (embora não conclusivos) e no dia seguinte acorda-se com aquela sensação de.... bom, e agora???????????

Claro, falta a defesa.... mas depois de tantos meses estudando, lendo, relendo, revendo, vendo, redescobrindo, a defesa aparece hoje como menor – embora não seja e, eu sei, me causará angústia e dores abdominais nas vésperas, antevésperas e afins... afinal, a aprovação só acontece ali, após o olhar minucioso e criterioso da banca.

Enfim... uma amiga, a Núbia, que depositou a dissertação no mesmo dia que eu me disse: que vazio!!!... pois é... que vazio.... acostumada a pautar a vida por prazos, páginas, argumentações, subitamente me vejo sem rumo... sem bolsa, não ainda mestra, sem títulos, sem (quase) nada... trabalho mesmo, remunerado, só após a defesa... um hiato... um tempo de vazio que se não for direcionado, pode causar pânico. Pânico do nada, medo do amanhã, expectativa quanto ao que pode ser realizado.

Concretamente resta a solidão.... e a sensação de dever cumprido (ou quase), de ter vencido quando a maioria teria abandonado tudo, de ter – como me disse um colega recentemente – de ter continuado e perseverado quando todos os outros seres humanos teriam encontrado mil desculpas para largar tudo e culpar ... o mundo!!!! Amor desfeito, doença, desespero de causa, desilusões... nada foi forte o suficiente... a meta, o objetivo se manteve imperativo... chicote e feitor: prazos e metas ... e a necessidade de não decepcionar algumas pessoas: minha mãe, minha orientadora, e os amgios e amigas que – eu sabia – torciam por mim.


Hoje, apesar de ainda não saber como será o amanhã, sinto-me vencedora - mas somente em parte....Venci a mim mesma – o que é difícil. Coloquei diante de mim a meta de ser responsável por mim mesma... desejei ser respeitada pelo que sou e por ser quem sou. Desejei ter mais do que aquilo que tinha, ser mais respeitada como ser humano e, ao mesmo tempo, respeitar e compreender o mundo que me cerca. O quanto esse desejo me custará, somente o tempo dirá.

Meu mestrado durou muito, muito mais do que duram os mestrados comuns ... e custou-me mais ainda.... em termos emocionais, custou-me uma vida. Só Deus será capaz de avaliar o merecimento. Se é que o há. Todo o resto é balela.

Penso no semblante de minha mãe, de minha tia, e dos meus filhos ao dar-lhes a versão encadernada e autografada (preta com letras douradas) do trabalho concluído, nos olhares orgulhosos que recebi e sinto-me em parte recompensada pelas noites em claro, pelas risadas suprimidas, pelos momentos não vividos.... mas, como vil materialista e (pouco) prática que sou, penso também em como será usar isso no trabalho, como transformar esse anos não só em material para aulas futuras, em conscientização das gerações cujos cérebros ajudarei a moldar, mas também - sou humana - em compensação tangível ...

O mais interessante, Diário, e você pode achar que sou de marte – e que por isso careço de noções práticas de sobrevivência na Terra – mas essa é a parcela menos importante... preocupa-me menos os benefícios materiais que possam me trazer os anos de estudo, e muito mais os ganhos mais abstrato – (e nem por isso mais sublimes): os benefícios intelectuais trazidos, o orgulho pelo conhecimento (um dos pecados capitais)... e confesso que a cada nova descoberta, a cada pensamento novo, sinto-me vaidosa (correndo o risco de penar no inferno) das conquistas (parcas) que obtive.... e fico satisfeita por saber que poderei fazer alguma diferença no meio em que atuar.

Em setembro, Diário, presto exame para o doutorado... mais horas de estudo solitário... mas agora é tempo de escrever uma nova história, ou de continuar a mesma história sob uma ótica diferente .... desta vez, desejo que os estudos estejam entrelaçados ao prazer da vida familiar, ao amor de meus filhos e de minhas (meus) amigas(os), e quem sabe, ... sonhar não faz mal ... de alguém que compreenda meu amor pelo que faço, e que venha a se tornar especial....

O doutorado significa dedicação de, em média, quatro a cinco anos... não sei até onde terei fôlego de ir.... se depender somente de meu desejo, chegarei ao infinito... desde que o infinito não me custe a alma e a felicidade.

Boa noite, diàrio....

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A Verdade Interior


Querido Diário,Você, que é um ser bem informado, dotado de curiosidade e inteligência, já sabe que Sócrates, nascido 470 (ou 469??) anos antes de Cristo, não deixou suas idéias escritas para a posteridade, não é??

Pois é... tudo o que temos dele são os Diálogos registrados, na verdade, por Platão, que foi discípulo de Sócrates, numa tentativa bem sucedida de preservar as idéias do mestre para que tudo não se perdesse no tempo... mas não é sobre isso que pretendo falar...

Durante o fim de semana assisti a um vídeo que abordava algumas das posições filosóficas de Sócrates que, pasme Diário, era contra a democracia. Ele não chegou a afirmar que a democracia era burra – porque o problema que o perturbava não era o sistema ou a idéia política que permeava o sistema democrático (nascido lá mesmo) em sí, mas o fato de que a verdade nem sempre estava com a maioria, e que o mais importante para todos deveria ser a busca da verdade individual de cada um.

Após passar por uma crise existencial, Sócrates se reencontrou ao ler a frase: conhece-te a ti mesmo.... que passou a ser a base de sua pregação filosófica .. e conhecer-se a si mesmo significa ausentar-se das verdades comuns para buscar a sua própria; implica questionar e refletir sobre nossas crenças, colocando-as à prova, como se fosse a primeira vez que a estivessemos observando, sempre tendo em vista o auto conhecimento e a busca de uma verdade transcendental. Algo assim como tornar-se seu próprio objeto de estudo.... Lindo, não, Diário?

O interessante, é que Sócrates foi uma figura um tanto repulsiva, que detestava tomar banho ou trocar suas roupas, e vivia na Ágora, uma mistura de mercadinho, praça de alimentação e jardim que existia na Grécia antiga, onde passava horas e horas questionando seus discípulos e os homens públicos (que naquela época viviam de fato entre o povo) sobre as verdades aparentes e os perigosos consensos seguidos pela maioria das pessoas.

Sócrates acreditava que todos os pensamentos deveriam ser colocados em questionamento para que se provassem verdadeiros (ou não) para o indivíduo. Dizia ele que a única Verdade válida só poderia vir do interior de cada um, e instigava as pessoas, indagando, levantando contradições nos pensamentos, para que estas pudessem buscar dentro de si o conhecimento que os conduziria à revelação da essência das coisas e da essência dos homens.

Sócrates não acreditava na sabedoria das massas, e afirmava que o fato de todos concordarem com algo, não significaria, automaticamente, esse algo fosse melhor ou estivesse correto. Para ele a essência do homem e a explicação do problema existencial não podem ser buscadas na materialidade cotidiana, repleta de interesses suspeitos e egoístas.

A busca da verdade que levaria á virtude, Diário, deveria ser o único objetivo dos homens, o único bem maior capaz de trazer de volta a paz e a harmonia entre os seres humanos.Por isso, Sócrates desconfiava de tudo o que fosse coletivo ... ... e afirmava que se pensamos ou somos diferentes da maioria, isso não quer dizer que estamos ou somos errados... para ele, na maioria das vezes, aquele que vai contra a corrente, que não segue passivamente o fluxo (das verdades prontas, dos pensamentos cristalizados) pode ser o único capaz de encontrar a VERDADE e o CONHECIMENTO que habitam dentro dele.

Mas é bom lembrarmos sempre, meu caro Diário, que quem questiona muito incomoda aqueles que constroem as verdades destinadas as massas, né?? Faz desafetos. Sócrates, por exemplo, foi condenado à morte por suas idéias... foi obrigado a tomar cicuta ...

Então ... pois é.... hhuummmmm ......acho melhor deixar de escrever nesse meu blog.... rsrsrsrs..... não que eu seja muito original, longe disso... mas... sabe como é, Diário?? Minha avó sempre dizia que boca fechada e canja de galinha não fazem mal a ninguém... muito sabia a Dna. Julia.... acredito que esta é uma verdade coletiva que pode me servir muito bem!!!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sobre Sonhos


Sobre Sonhos

Querido Diário,

Você sabe o que é sonhar???
Existem, claro, dois tipos de sonhos ... os “concretos”, que são aqueles sonhados enquanto dormimos e dos quais, quase sempre, pouco nos lembramos, e quando os recordamos raramente compreendemos seus significados.

O motivo, Diário, segundo o Jung, é que os símbolos que criamos para sonhar são únicos, pessoais e intransferíveis... ou seja... aquela árvore que no meu sonho pode estar vinculada à memórias de minha infância, para outra pessoa adquire outros significados... pode se relacionar a algum ato violento, à um momento especial guardado no inconsciente, ou pode, ainda, simbolizar alguém em quem o sonhador confia.

Assim, Diário, não adianta muito tentar analisar os sonhos alheios se não conhecemos profundamente não só o passado do sonhador, mas como funciona o inconsciente dessa pessoa; suas memórias ... como ele ou ela relaciona as imagens oníricas com seus símbolos pessoais, quais são suas crenças – porque suas crenças interferirão na produção de seus sonhos aceitáveis (aqueles que ela se recordará) e os proibidos (que serão reprimidos pelo conjuntos de coisas em que ela acredita, que formam o consciente)... tudo muito, mas muito complicado, caro Diário.

Assim, vou me restringir a falar de outro tipo de “sonho”.... aquele que sonhamos acordados e que, a rigor, não são exatamente “sonhos” , mas desejos, vontades, necessidades... as coisas boas que planejamos para nós no futuro, tudo aquilo pelo que lutaremos ( para ter ou ser) ... esses pensamentos e imagens que estão, de fato, na esfera do desejo, é o que costumamos chamar de “nossos sonhos”.

Pois bem, diário, uma vez feita a distinção, quero dizer que sem esse sonho-desejo a vida fica muito sem graça... imagine se passássemos todos os cerca de setenta anos que viveremos (em média) sem desejar... sem lutar por nada, vivendo um dia depois do outro, assim como se esperássemos a vida acabar ... e só!!! Muito chato, não é??

Pois é... imagine você, Diário, que muitas pessoas começam a vida sonhando, desejando, lutando pelas coisas que acreditam certas e boas, por coisas e pessoas, por ideais e valores e vão, aos poucos, deixando de querer, deixando de lutar...... triste, não é? Porém verdadeiro; tão verdadeiro que desperta o desejo de compreender o porquê de algumas pessoas desistirem de si mesmas.

Sabe, Diário, viver exige coragem. Isso é fato. O tempo todo, se desejarmos VIVER, temos que matar – metaforicamente – um leão por dia. Contas para pagar, uma desilusão amorosa, engano com as pessoas, amigos que não são tão amigos assim, um trabalho maçante, um chefe egocêntrico, descobrir-se menos do que se julgava ser, um filho que nos decepciona, a morte de alguém querido... enfim .... eu poderia ficar aqui listando o dia inteiro e ainda faltaria espaço e tempo para tudo o que pode levar alguém a ir, aos poucos, e em doses homeopáticas, desistindo da vida... ai vem a depressão, chegam doenças, a tristeza se instala e cá estamos nós, frente a um adulto (em 99,99% dos casos os desistentes são adultos) que está somente respirando e esperando o tempo passar...

Às vezes, Diário, é sinal de sabedoria ter a consciência de que o momento é tão,mas tão complicado que o melhor a fazer é fingir-se de morto e ficar respirando quietinho, esperando a tempestade passar ... mas se ficamos quietos por tempo demais, se nos anulamos demasiado, se deixamos as coisas ficarem para sempre como estão, corremos o risco de que quando tudo passar tenhamos perdido a capacidade de sonhar, de desejar, e de lutar pelo que julgamos que seja bom para nós.... ou, o que é pior.... podemos já nem sermos capazes de saber o que seria, de fato, bom para nós... e passaremos a viver a vida que, se parássemos um segundo para pensar, não é a que gostaríamos de viver.

Por isso, Diário, manter a perspectiva das coisas é muito importante. Olhar para o futuro, também... esquecer o momento presente e mentalizar o que desejamos para nós... e ir atrás... isso, é, em essência, sonhar acordado...

No entanto, caro amigo, até para sonhar é preciso parcimônia e ponderação... se colocarmos os olhos sempre no futuro, nos desejos, no que ainda não possuímos, corremos o grande risco de deixarmos de viver – e de sermos felizes – com o que temos e somos no aqui e no agora...

Outro dia li uma frase singela que dizia: vida é o que acontece enquanto você planeja o futuro... ou seja, Diário, vamos sonhar sim, é importante, é vital... mas vamos ser felizes com o que temos hoje também.... viver o presente, aceitá-lo... pois, como eu já te disse um outro dia, só temos a capacidade de mudar aquilo que aceitamos....

Eu, para te dar um exemplo prático, Diário, aceitei o fato de que estou sem carro... é chato, limitante, mas aprendi a ser feliz sem ele, a buscar as compensações e vivenciar a experiência de estar entre outras pessoas ... outro dia, eu passava por sobre a ponte Cidade Universitária para ir até a USP e presenciei um por de sol magnífico lá de cima... parei, fiquei na murada admirando aquela maravilha, e pensei: eu jamais teria essa oportunidade se estivesse passando por aqui de carro.... ao admirar e reconhecer a beleza do por de sol não me fez desistir de poupar para comprar meu automóvel – chego lá, Diário – mas procuro ser feliz agora, já.... e tirar das coisas uma boa lição.

Talvez essa seja a diferença entre ficar se lamentando e escolher ser feliz... e a escolha não se aplica somente às grandes coisas da vida, não.... Ela deve se dar a todos os momentos, nessas coisinhas práticas, nas chatices do dia a dia, nos pequenos aborrecimentos que optamos por deixar ou não que atrapalhem nosso dia... .... é mesmo uma escolha que fazemos – e embora eu compreenda que algumas pessoas tenham sofrido tanto que deixaram de sonhar, e escolherem sentir-se infelizes e reclamar sempre da vida - eu me recuso, Diário... me recuso terminantemente a abandonar meus sonhos; a deixar de querer; a deixar de buscar... e me recuso a permitir que o pessimismo, a tristeza ou as aporrinhações de todo dia a que todos estamos sujeitos, me estraguem o prazer de viver e de sonhar... porque são os sonhos que nos
movem, que nos dão energia...

Sabe... se eu pudesse fazer um único desejo para um gênio da lâmpada, pediria que os homens nunca, jamais deixassem de sonhar, e que todos fossemos capazes de agradecer todos os dias pelas coisas que temos ... que não importando quão dura possa ser a realidade de cada um, a fome, a violência, a miséria interior ou exterior que tenham que enfrentar, não deixassem de querer, de buscar e de sentir-se felizes e gratos pela vida ...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Reducionismos


Querido Diário,

Eu sei, eu sei... você anda zangado por eu ter te abandonado...

Não se aborreça ... tampouco se avexe... sou assim mesmo: instável, com surtos de frieza e distanciamento (até de você, meu amigo), alguém que pensa demais e age de menos, e que passa por uma "fase crônica" de falta de tempo em excesso... mas vamos ao que interessa...
Você sabe, Diário, que adoro ler. Sou do tipo que quando não tem absolutamente nada em mãos para ler, lê bula de remédios, placas, sinais, gestos. Leio de tudo.... mas não gosto de tudo que leio. Por exemplo, não sou exatamente fã ardorosa dos escritos da Lya Luft. Penso que ela, em um número desconfortavelmente alto de vezes, escorrega facilmente para um pensar que beira o simplório e o “pensamento mágico” ... no entanto, apesar dessa escrita coloquial que satisfaz um senso comum, ela aborda alguns temas interessantes, embora pelo viés simplista que tem o hábito de adotar...

Vejamos. Em um texto que pretende discutir as diferenças entre homens e mulheres com mais de quarenta anos, em especial aqueles que se encontram sós, ela pergunta se alguém já ouviu falar em excursão para viúvos, palestras para tratar dos males masculinos (a semi desconhecida andropausa, impotência, etc). Quantas vezes, pergunta ela, vemos grupos de amigos da terceira idade se reunindo para conhecer novos lugares, ou travar novas relações. Ainda segundo Luft, e nisso ela tem alguma razão, as mulheres sozinhas buscam mais a companhia umas das outras, viajam mais em grupos, saem mais com as amigas, estão sempre abertas a novos contatos.

Segundo Luft, a razão pela qual os homens não adotam nenhuma das alternativas anteriores como comportamento habitual deve-se ao fato de que as mulheres vivem mais (chegando a óbvia conclusão de que existem muito mais mulheres idosas sozinhas); que os homens, quando perdem a companheira, não ficam sozinhos (sempre buscam rapidamente por outra); que eles se ocupam mais com o trabalho; e se apóiam mais nos filhos.

Na verdade, Diário, acho que a Lya deveria freqüentar mais campos de futebol, tênis, bocha, salões de dança, e pescarias...

Os poucos espécimes com quem travei amizade durante essa minha curta experiência de solteira-depois-dos-quarenta-e-cinco me mostraram que os homens têm sim hábitos grupais... reúnem-se no futebol, no clube, no bar do clube – qualquer local “masculino” que funcione como uma boa desculpa para juntarem-se e colocarem em dia suas fofocas (também masculinas), que quase nunca serão de cunho pessoal ou afetivo; para partilharem e compartilharem contatos, histórias, piadas, opiniões ....

O que acontece – eu penso – é que os homens formam um grupo de seres de difícil compreensão para nós, mulheres. O mundo masculino é um mundo que, embora tenha momentos de intersecção com o feminino, é estranho às mulheres, pois parte de alguns pressupostos - e visa suprir necessidades - que soam estranhas ao nossos corações e mentes... talvez, Diário, seja esse o motivo de o homem adotar hábitos diferentes em sua vida social: porque eles são diferentes das mulheres em mais aspectos do que gostamos de aceitar (sem criticar).

Não acredito, como dá a entender Luft, que os homens têm “problemas” que as mulheres não têm, ou que são menos curiosos em relação às coisas que os cercam. Apenas pensam e racionalizam o mundo à partir de premissas que muitas vezes, para nós, não fazem o menor sentido ... e a causa disso é uma questão muito mais ampla, que vai do social ao antropológico, e diz mais respeito aos papéis tão diferentes que lhes foram determinados ao longo dos milhões de anos da história humana - desde o surgimento do primeiro primata no planeta - do que a fatores biológicos.

Mesmo aqueles que por qualquer motivo ficaram sem suas parceiras e uniram-se à primeira pessoa (ou a segunda, ou a terceira) que conheceram, tendem a manter os laços de amizade com seus amigos, da mesma maneira que as mulheres o fazem. Ou, pelo menos, gostariam de .....

Isso nos levaria a um outro lado dessa mesma história... normalmente, as mulheres adoram reunir-se com suas amigas, mas ficam de “orelhas em pé” quando seus namorados, maridos e etc querem juntar-se para uma cervejinha... a maioria das mulheres tende a cercear seus companheiros, com medo que eles se tornem excessivamente – e perigosamente - gregários ... mas isso é assunto para outro dia....

Outro fator limitante, que talvez impeça os homens de agirem como as mulheres (além do inegável fato de serem biologicamente diferentes) - é que as mulheres foram ensinadas que não há problemas em mostrarem seu afeto pela amiga, pelos filhos, pelos sobrinhos, irmãos.... as mulheres aprenderam que podem ser mais unidas e afetivas sem correrem o risco de serem rotuladas de lésbicas, de “esquisitas”, ou seja lá que outros rótulos a sociedade costuma impor quando - e se - homens demonstram afeto um pelo outro, ou mostram-se muito sensíveis em relação ás situações e pessoas.

Para resumir e encerrar, Diário, a coisa toda torna-se, então, muito mais complexa do que “mulheres agem assim” X “homens agem assado” .... há muitos fatores interagindo para que os grupos comportem-se dessa ou daquela maneira, e simplificar demais empobrece o ato de "pensar sobre".

E esse, Diário, é o maior problema que vejo na Lya Luft... um reducionismo que, em muitas ocasiões, empobrece coisas e pessoas - pois tudo fica muito na superfície, sem que exista a preocupação de aprofundar o pensamento...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A pessoa errada


A Pessoa Errada

Querido Diário,

Há um texto do Veríssimo sobre o qual vale a pensa tecer alguns comentários... segundo ele, há uma falácia no pensamento universal sobre quem seria a pessoa certa para nós .... segundo o senso comum, a pessoa certa chegaria sempre na hora certa, faria tudo certo, diria as coisas certas nos momentos certos, daria os presentes certos, pensaria certo....
Uma relação assim, segundo a especialista em humanidades e minha amiga-bruxa Divanize, leva o casal á estagnação, impede o crescimento, cria um “lago cristalino” de coisas previsíveis... e chatas!!!

Sou obrigada a concordar, então, com o Veríssimo e com a Divanize .... certa mesmo é aquela pessoa errada ...
que nos faz chorar, mas cinco minutos depois está nos enxugando as lágrimas;
que nos faz perder o sono mas, em troca, nos proporciona uma noite de amor inesquecível (frase do Veríssimo)
que temos medo de perder,
que pode até nos magoar, mas vai nos encher de mimos pedindo nosso perdão (Veríssimo novamente)
que nos faz morrer de amor,
fazer planos ...
nos leva à loucura mesmo com os dois pés no chão
Aquela que é diferente de nós
que gera crescimento,
que debate idéias
que discorda
que transforma o aprendizado mútuo em momentos de prazer


O perigo, Diário, é que quase sempre nós e as pessoas “erradas” que já encontramos pelo caminho não nos percebemos como “certos” – ou temos medo do trabalho que dá fazer o errado virar certo – e corremos apavorados, esperando encontrar a pessoa certa.... que pode até existir, mas vai nos levar à estagnação, ao previsível, á mesmice ...

Bom mesmo, Diário.... é encontrar a pessoa errada certa!!!!!!!!!!!!!!!!
Diário.... não ando muito inspirada.... acho que a dissertação anda me consumindo as idéias... depois eu volto aqui e tento pensar mais sobre isso!!!!


sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Indulgências....


Querido Diário,

Ontem li uma frase de Goethe que me fez refletir muito. Ele afirma que o envelhecer nos torna mais indulgentes, pois não vemos ninguém cometer erros que já não tenhamos, nós mesmos, cometido. Caso você não saiba, Diário, e segundo o Aurélio, ser indulgente significa estar pronto para perdoar, ser tolerante, ser benigno e complacente....

Com todo o respeito que Goethe merece, eu discordo!!! Essa afirmação me parece um sofisma.

Na verdade, Diário, creio que as coisas não são bem assim. Vejo muita gente esquecer-se de suas próprias atitudes passadas e apontar o dedo acusador para um seu semelhante, esquecendo-se de que ele próprio já fez coisa parecida – quando não, pior.

A indulgência, da maneira como a vejo, não vêm com a velhice. Não é algo que se deva a um fator cronológico... é, antes, um ato de “reconhecimento” para com seu semelhante, é a capacidade de enxergar no outro as fragilidades que todos temos. O envelhecer, pura e simplesmente, não nos torna mais caridosos, mais humanos, mais compreensivos, mais honestos, e tampouco refina o olhar com que observamos o mundo que nos cerca... a maioria dos “defeitos” que temos envelhecem conosco .... e não podemos nos esquecer que os obtusos, os seres vis, os calhordas, os sem coração, os desonestos, os cruéis, também envelhecem...

Não, Querido Diário, não pertenço á escola dos cínicos!!! É claro que acredito na capacidade de mudança, na força das experiências vividas, que nos levam a perceber – antes tarde do que nunca – que estamos julgando algum nosso semelhante com pesos e medidas que não usaríamos para nossos próprios atos.

No entanto, creio que somente algumas situações têm força motriz suficientemente forte para gerar uma mudança verdadeira e duradoura dentro de nós... é o que eu costumo chamar de “experiências transformadoras” ... é vivenciar uma dor que por ser tão profunda, tão forte, tão dilacerante nos obriga a olhar para dentro de nós mesmos e altera, como conseqüência, nossa percepção do mundo lá fora. Só após sofrermos essas mudanças internas é que teremos a capacidade de olhar para o “outro” com um o olhar renovado de quem foi ao inferno de si mesmo e voltou – e ai, sim, TALVEZ, possamos usar os mesmos pesos para julgar a todos – porque é a isso - também -que se resume tornar-se indulgente ... e compreendermos que somos todos passíveis de erros, sofrimentos, enganos – sejam eles voluntários ou não.

Ser indulgente, Diário, pode até ser fácil dependendo do significado que dermos ao ato. Voltemos ao Aurélio. Ser tolerante com os erros alheios não é tão difícil assim... pois ao tolerarmos as falhas dos outros estamos fazendo vista grossa às nossas próprias falhas, e sendo muito caridosos ... conosco!!!
Já o perdão... bem ... perdoar, Diário.... perdoar de verdade ... é muito, mas muito mais difícil... e requer de nós, pobres seres humanos, uma compreensão da alma do outro (e da nossa própria) que nem sempre estamos dispostos a ter... até porque, não raro, o ato de perdoar vem acompanhado do reconhecimento (quase nunca confesso) de que nós, de alguma maneira, colaboramos com o erro alheio... e isso nosso orgulho não pode admitir, não é?
Você bem sabe, Diário, que o senso comum enaltece o ato de perdoar... fala-se que o perdão é "bonito" ... é que, teoricamente, o ato de perdoar nos confere magnanimidade... é como se disséssemos ao mundo: veja só como sou bom, que alma nobre eu tenho... mas o verdadeiro perdão, Diário, aquele dado em silêncio, que vem do fundo da alma, que transforma quem perdoa e quem é perdoado.... esse sim, não depende do tempo, nem da idade, nem da experiência, para acontecer... só a transformação interior, a aceitação, o reconhecimento da fragilidade do homem, e a verdadeira caridade que mansamente nasce de dentro para fora, é capaz de provocar...
O triste - e que contradiz Goethe - é que para muitos, para uma imensa multidão da qual lamento fazer parte Diário, não importa quantos anos tenham se passado, essa capacidade parece jamais se concretizar.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Resoluções


Querido Diário,

Feliz Ano novo para nós dois!!!!! Que este ano eu consiga cumprir metade das metas que planejei em minha lista de "resoluções para 2008" ... será uma tremenda vitória.

Como não poderia deixar de ser, hoje sinto vontade de falar sobre renascimentos e recomeços. É a síndrome do novo ano, Diário, que desperta a vontade de jogar fora as coisas que incomodam, o que não nos serve mais, e vestir a roupa “nova” do que desejamos ser no próximo ano – e no resto de nossas vidas.

É quando paramos por algum tempo para reajustarmos o rumo, consultarmos bússolas e estrelas para saber se estamos no caminho certo, se não nos desviamos demais daquilo que planejamos ser quando éramos mais jovens, para verificarmos o quanto de nossos sonhos ainda estão irrealizados. Quase sempre descobrimos que estamos insatisfeitos com os caminhos que escolhemos, mas sentimos medo de dar uma guinada, de mudarmos demais o curso das coisas, pois nossas atitudes podem implicar em perdas e danos, abandonar o seguro, o certo, o confortável em troca de uma possibilidade de ser ... mas, às vezes, pode valer a pena!!!

Cada vez mais admiro a capacidade que nós, seres humanos, temos de renascer das próprias cinzas, as nossas qualidades de “Fênix”... é bem verdade que deixar-se consumir por sentimentos, e vivenciar tudo muito intensamente pode ser doloroso – mas deveria ser uma opção ... pois – e acredito nisso firmemente – é sempre preferível viver a vida a nos escondermos dela. Trata-se da opção de não beber a vida com colherinha de café.

Bem, Diário, já que você insiste TANTO eu responderei á sua pergunta. Não, Diário, não saio assim, largando coisas ao meio, desistindo de tudo diante do menor problema... muito ao contrário ... não sou covarde. Na verdade, gosto de um bom desafio, de sentir-me instigada pelo desejo de ser ou ter... mas algumas coisas e pessoas nos afetam de tal forma que tornam-se como tumores cancerígenos consumindo nossa energia – e precisam ser extirpadas para conseguirmos seguir adiante. Sempre que alguém ou alguma coisa se alimenta – no sentido negativo da palavra – de nossos sentimentos, sempre que nosso amor/ amizade/inteligência são usados para alimentar o ego de alguém, é hora de mudar ... e de usarmos nossa energia em nosso próprio benefício.

Cada vez mais percebo a necessidade de se ter a coragem de recomeçar, ou de mudar a rota quando isso se torna imperativo – mesmo nas pequenas coisas, nos pequenos vícios ... recomeçar ou mudar não significa, necessariamente, tornar-se outra pessoa a cada vez que a vida chega a um impasse ... trata-se apenas de verificar se as alegrias trazidas tornaram-se menores que as tristezas, de pesar prós e contras, e desejar sentir-se bem consigo mesmo ... é mais ou menos como escolher entre o andar se arrastando pela vida esperando que o tempo passe e a morte chegue, e o renovar votos pela vontade de viver com plenitude, respeito próprio e felicidade.

Parece estranho falar em “felicidade” não é? Parece démodé ou piegas... mas sentir-se feliz é a base de tudo o que é bom em nossas vidas. Saúde, alegria, prosperidade.... tudo de bom e positivo parece acompanhar a felicidade. O contrário também pode ser verdadeiro. Pessoas depressivas, amargas e que não conseguem mudar atraem doenças, tristezas e infortúnios.

Jung disse que só podemos mudar aquilo que aceitamos. Condenar não nos liberta – ao contrário, nos oprime. Por isso, só podemos alterar o que nos incomoda se aceitarmos aquilo que nos faz mal. Só temos o poder de transformar algo a partir do momento em que reconhecemos e aceitamos a existência do que chamarei de "fator x”, e que ele não nos serve mais. Enquanto negarmos a existência do “fator x”, ele continuará lá, nos oprimindo com suas necessidades impróprias ao nosso bem estar. Vale lembrar que o "fator x” pode estar dentro de cada um de nós também, pode ser interno ... e que aceitar nossos defeitos e nossas imperfeições é o primeiro passo para melhorarmos e encontrarmos caminhos menos turbulentos.

Pode parecer subjetivo, mas garanto que não é. Eu poderia escolher vários exemplos práticos em minha própria vida, ou entre amigos e conhecidos, que elucidariam como as pessoas permitem que as outras as façam infelizes... talvez por ser muito, mas muito mais confortável ter aquele “outro” para responsabilizar.... afinal, é duro reconhecermos que somos os únicos culpados de nossa (in) felicidade – seja por omissão, seja por medo de agirmos e nos arrependermos depois, ou por uma lista de desculpas (ou razões motivadoras) que somos capazes de criar para nos sentirmos melhores ao olharmos no espelho ... mas a única verdade é que damos poder demais ao “fator x” – seja ele um externo ou interno.

Por isso tenho o hábito de pensar minha vida em todo início de ano. É um bom momento para encarar meu "fator x”, e também os não mencionados fatores “y” e “z”. É um bom dia para traçar caminhos, e pensar o futuro. Hoje é dia de planejar e escolher... e eu escolho ser feliz. E você, Diário?? Como vai viver o resto de sua vida??

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

uma questão colorida!!!



Querido Diário,


Talvez você não o saiba, mas o humano é, por excelência, um ser que se sente mais seguro em um mundo que ele possa analisar, dividir por espécies, e compreender. Desde sempre, os povos aprenderam e desenvolveram técnicas para melhor catalogar as coisas da natureza, e os ambientes em que nós vivemos. Se pararmos para pensar, Diário, absolutamente tudo que nos cerca já foi, de alguma maneira, catalogado. Para as coisas ainda não esclarecidas, o Homem cria teorias, nomes, idéias, que ficam á espera de serem ou não (um dia...) confirmadas. Darwin, então, levou a idéia de registrar e verificar o mundo ao extremo – e depois dele nada mais foi como antes... à partir dele, desde os muitos reinos terrestres, até todas as variações do humano vêm sendo divididas, analisadas e hierarquizadas.

A biologia deveria ter sido a ciência que acabaria com discriminações... descobríriamos, através dela, que cada ser tem seu valor intrínseco, suas características próprias e sua função na natureza - sem que isso implicasse uma escala de valores hierarquizantes. Deveríamos ter aprendido, Diário, que ser diferente não é problema. Tampouco o é reconhecermos que o nosso vizinho tem a pele mais clara ou mais escura que a nossa. O problema começa quando passamos a tomar essas diferenças como maneiras de escalonar, de identificar hierarquias que não existem de fato. Eu explico, Diário, não fique nervoso.
Vários são os parâmetros que a biologia já utilizou ao longo dos séculos para estudar os serem humanos. Muitas teorias surgiram – especialmente na idade média – que utilizaram fatores tais como o formato do cérebro, da caixa craniana, do nariz, e outros, para classificar os humanos. Todas elas foram desmascaradas pelos atuais estudos genéticos, que provaram à existência de um paradoxo: que todos os homens são muito mais parecidos uns com os outros do que a maioria gostaria; e, ao mesmo tempo, somos únicos em nossas estruturas primordiais.

No entanto, veja só, as descobertas da biologia, apesar de terem implodido muitos dos conceitos de “raça” de outros tempos, não ajudaram a tornar as sociedades menos preconceituosas.

Isso se deve, querido Diário, aos vários fatores subjetivos de que nos utilizamos para julgar as pessoas; e existe uma gama enorme de parâmetros a que os homens lançam mão para provar que são superiores uns aos outros. Alguns desses fatores - os mais importantes e mais diíceis de serem mensurados, se formam ao longo da vida e podem ser modificadas se a pessoa assim o determinar, e tiver oportunidade e vontade de fazê-lo.... Aspectos tais como honestidade, coragem, lealdade, força de vontade, respeito aos outros, respeito a si mesmo, força de trabalho, energia,... e tantos outros podem ser trabalhados, melhorados, e apreendidos.

No entanto, Diário, existem outras características usadas para julgar e catalogar as pessoas que baseiam-se em elementos que independem do sujeito, e pior, não podem ser modificadas mesmo que a pessoa assim o deseje. Estão fundamentadas na (falsa) idéia de superioridade de um grupo sobre o outro; e na tendência que o homem tem de valorizar o que é seu em detrimento do que pertence ao outro – ou ao que é diferente dele.

Assim, Diário, quando vejo alguém ser julgado pela cor de sua pele fico indignada. Não existe fator mais independente da vontade e do caráter de alguém do que a cor de sua pele, ou a cor dos seus olhos. É como querer julgar alguém por ter o dedo mindinho menor do que o seu, ou por ter cabelos encaracolados, ou por ter sobrancelhas grossas.

Julgar que existe algum tipo de predisposição genética que faz com que um grupo da cor X seja melhor, tenha melhor caráter, ou mais inteligência ou qualquer traço de superioridade sobre os elementos da cor Y é a coisa mais indigna e arbitrária que alguém pode fazer. O mesmo vale para as várias gradações que surgem nas misturas entre X e Y...

O que eu acredito, Diário, e existem muitas pessoas que pensam como eu, é que existem fatores sociais que, no Brasil por exemplo, traçam uma mórbida e triste relação entre pobreza e cor; criminalidade e cor. Não porque os indivíduos da cor X sejam melhores ou mais corretos, mas porque os indivíduos da cor Y são submetidos a condições tais que somente alguns conseguem sair do meio em que vivem, e alcançar uma vida mais digna.

Fico, às vezes, imaginando quantos séculos ainda se passarão até que as pessoas entendam que a concentração de melanina não afeta o cérebro. Também não afeta o caráter. Nem torna ninguém incompetente, e tampouco é responsável pela inteligência (ou pela falta de....).
A melanina também não torna ninguém mais violento. No entanto, Diário, quando a inteligência, a curiosidade pelo mundo, e a capacidade de realizar só é levada em conta se você pertence a cor X e não a Y, isso sim, caro amigo, pode gerar violência – porque pode acontecer de que, ao sentir-se acuado e injustiçado, o sujeito do grupo que sofre o preconceito apele para a única força que lhe é conferida: a força física.
Boa noite!!!