segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A Verdade Interior


Querido Diário,Você, que é um ser bem informado, dotado de curiosidade e inteligência, já sabe que Sócrates, nascido 470 (ou 469??) anos antes de Cristo, não deixou suas idéias escritas para a posteridade, não é??

Pois é... tudo o que temos dele são os Diálogos registrados, na verdade, por Platão, que foi discípulo de Sócrates, numa tentativa bem sucedida de preservar as idéias do mestre para que tudo não se perdesse no tempo... mas não é sobre isso que pretendo falar...

Durante o fim de semana assisti a um vídeo que abordava algumas das posições filosóficas de Sócrates que, pasme Diário, era contra a democracia. Ele não chegou a afirmar que a democracia era burra – porque o problema que o perturbava não era o sistema ou a idéia política que permeava o sistema democrático (nascido lá mesmo) em sí, mas o fato de que a verdade nem sempre estava com a maioria, e que o mais importante para todos deveria ser a busca da verdade individual de cada um.

Após passar por uma crise existencial, Sócrates se reencontrou ao ler a frase: conhece-te a ti mesmo.... que passou a ser a base de sua pregação filosófica .. e conhecer-se a si mesmo significa ausentar-se das verdades comuns para buscar a sua própria; implica questionar e refletir sobre nossas crenças, colocando-as à prova, como se fosse a primeira vez que a estivessemos observando, sempre tendo em vista o auto conhecimento e a busca de uma verdade transcendental. Algo assim como tornar-se seu próprio objeto de estudo.... Lindo, não, Diário?

O interessante, é que Sócrates foi uma figura um tanto repulsiva, que detestava tomar banho ou trocar suas roupas, e vivia na Ágora, uma mistura de mercadinho, praça de alimentação e jardim que existia na Grécia antiga, onde passava horas e horas questionando seus discípulos e os homens públicos (que naquela época viviam de fato entre o povo) sobre as verdades aparentes e os perigosos consensos seguidos pela maioria das pessoas.

Sócrates acreditava que todos os pensamentos deveriam ser colocados em questionamento para que se provassem verdadeiros (ou não) para o indivíduo. Dizia ele que a única Verdade válida só poderia vir do interior de cada um, e instigava as pessoas, indagando, levantando contradições nos pensamentos, para que estas pudessem buscar dentro de si o conhecimento que os conduziria à revelação da essência das coisas e da essência dos homens.

Sócrates não acreditava na sabedoria das massas, e afirmava que o fato de todos concordarem com algo, não significaria, automaticamente, esse algo fosse melhor ou estivesse correto. Para ele a essência do homem e a explicação do problema existencial não podem ser buscadas na materialidade cotidiana, repleta de interesses suspeitos e egoístas.

A busca da verdade que levaria á virtude, Diário, deveria ser o único objetivo dos homens, o único bem maior capaz de trazer de volta a paz e a harmonia entre os seres humanos.Por isso, Sócrates desconfiava de tudo o que fosse coletivo ... ... e afirmava que se pensamos ou somos diferentes da maioria, isso não quer dizer que estamos ou somos errados... para ele, na maioria das vezes, aquele que vai contra a corrente, que não segue passivamente o fluxo (das verdades prontas, dos pensamentos cristalizados) pode ser o único capaz de encontrar a VERDADE e o CONHECIMENTO que habitam dentro dele.

Mas é bom lembrarmos sempre, meu caro Diário, que quem questiona muito incomoda aqueles que constroem as verdades destinadas as massas, né?? Faz desafetos. Sócrates, por exemplo, foi condenado à morte por suas idéias... foi obrigado a tomar cicuta ...

Então ... pois é.... hhuummmmm ......acho melhor deixar de escrever nesse meu blog.... rsrsrsrs..... não que eu seja muito original, longe disso... mas... sabe como é, Diário?? Minha avó sempre dizia que boca fechada e canja de galinha não fazem mal a ninguém... muito sabia a Dna. Julia.... acredito que esta é uma verdade coletiva que pode me servir muito bem!!!

Um comentário:

Dc disse...

Não, Marília, não pare de escrever no blog. Muito legal esse texto. Por que você não elabora um livro com um narrador falando sempre com um interlocutor (como você faz aqui com o diário) e discorre sobre um assunto? Sabe, uma coisa meio parecida com o Mundo de Sofia. Acho que é uma grande idéia, não? Beijos.