sábado, 9 de agosto de 2008

O dia depois de hoje....


Olá Caríssimo Diário...

Seis meses, não é???

Não é que eu não tenha pensado nada – ou vivido nada – nesses últimos seis meses... mas tudo – absolutamente tudo estava voltado para “terminar” (ou quase) o mestrado.

Últimas leituras (sempre tem), últimos debates, pensamentos também de última hora.... tudo acontecendo junto, de chofre, nos últimos momentos - que duraram meses ....

De repente (não mais que de repente) tudo cessa.... coisas impressas, pensamentos concluídos (embora não conclusivos) e no dia seguinte acorda-se com aquela sensação de.... bom, e agora???????????

Claro, falta a defesa.... mas depois de tantos meses estudando, lendo, relendo, revendo, vendo, redescobrindo, a defesa aparece hoje como menor – embora não seja e, eu sei, me causará angústia e dores abdominais nas vésperas, antevésperas e afins... afinal, a aprovação só acontece ali, após o olhar minucioso e criterioso da banca.

Enfim... uma amiga, a Núbia, que depositou a dissertação no mesmo dia que eu me disse: que vazio!!!... pois é... que vazio.... acostumada a pautar a vida por prazos, páginas, argumentações, subitamente me vejo sem rumo... sem bolsa, não ainda mestra, sem títulos, sem (quase) nada... trabalho mesmo, remunerado, só após a defesa... um hiato... um tempo de vazio que se não for direcionado, pode causar pânico. Pânico do nada, medo do amanhã, expectativa quanto ao que pode ser realizado.

Concretamente resta a solidão.... e a sensação de dever cumprido (ou quase), de ter vencido quando a maioria teria abandonado tudo, de ter – como me disse um colega recentemente – de ter continuado e perseverado quando todos os outros seres humanos teriam encontrado mil desculpas para largar tudo e culpar ... o mundo!!!! Amor desfeito, doença, desespero de causa, desilusões... nada foi forte o suficiente... a meta, o objetivo se manteve imperativo... chicote e feitor: prazos e metas ... e a necessidade de não decepcionar algumas pessoas: minha mãe, minha orientadora, e os amgios e amigas que – eu sabia – torciam por mim.


Hoje, apesar de ainda não saber como será o amanhã, sinto-me vencedora - mas somente em parte....Venci a mim mesma – o que é difícil. Coloquei diante de mim a meta de ser responsável por mim mesma... desejei ser respeitada pelo que sou e por ser quem sou. Desejei ter mais do que aquilo que tinha, ser mais respeitada como ser humano e, ao mesmo tempo, respeitar e compreender o mundo que me cerca. O quanto esse desejo me custará, somente o tempo dirá.

Meu mestrado durou muito, muito mais do que duram os mestrados comuns ... e custou-me mais ainda.... em termos emocionais, custou-me uma vida. Só Deus será capaz de avaliar o merecimento. Se é que o há. Todo o resto é balela.

Penso no semblante de minha mãe, de minha tia, e dos meus filhos ao dar-lhes a versão encadernada e autografada (preta com letras douradas) do trabalho concluído, nos olhares orgulhosos que recebi e sinto-me em parte recompensada pelas noites em claro, pelas risadas suprimidas, pelos momentos não vividos.... mas, como vil materialista e (pouco) prática que sou, penso também em como será usar isso no trabalho, como transformar esse anos não só em material para aulas futuras, em conscientização das gerações cujos cérebros ajudarei a moldar, mas também - sou humana - em compensação tangível ...

O mais interessante, Diário, e você pode achar que sou de marte – e que por isso careço de noções práticas de sobrevivência na Terra – mas essa é a parcela menos importante... preocupa-me menos os benefícios materiais que possam me trazer os anos de estudo, e muito mais os ganhos mais abstrato – (e nem por isso mais sublimes): os benefícios intelectuais trazidos, o orgulho pelo conhecimento (um dos pecados capitais)... e confesso que a cada nova descoberta, a cada pensamento novo, sinto-me vaidosa (correndo o risco de penar no inferno) das conquistas (parcas) que obtive.... e fico satisfeita por saber que poderei fazer alguma diferença no meio em que atuar.

Em setembro, Diário, presto exame para o doutorado... mais horas de estudo solitário... mas agora é tempo de escrever uma nova história, ou de continuar a mesma história sob uma ótica diferente .... desta vez, desejo que os estudos estejam entrelaçados ao prazer da vida familiar, ao amor de meus filhos e de minhas (meus) amigas(os), e quem sabe, ... sonhar não faz mal ... de alguém que compreenda meu amor pelo que faço, e que venha a se tornar especial....

O doutorado significa dedicação de, em média, quatro a cinco anos... não sei até onde terei fôlego de ir.... se depender somente de meu desejo, chegarei ao infinito... desde que o infinito não me custe a alma e a felicidade.

Boa noite, diàrio....

Um comentário:

lefrank disse...

marilia ilha: teu texto me faz bem. Ainda que me deixe cansado só de pensar no teu esforço. Mas ele tem força, ímpeto. Fala de garra e de luta. Quantas facetas bonitas tem você. Conheci mais uma agora ao ler esse trecho. Espero que a vida lhe traga desejos e satisfações.

frank